segunda-feira, 23 de abril de 2012

O ESTAGIÁRIO E A FORMAÇÃO




Por essas semanas uma propaganda na televisão me chamou atenção. Trata-se de uma peça de uma determinada marca de carro – que não vale aqui fazer menção – onde dois sujeitos,  julgo eu, funcionários, pedem que um terceiro rapaz abra a loja para os clientes entrarem. Orgulhoso, a figura se desloca até a entrada e abre a porta, onde é pisoteado por uma grande quantidade de “clientes” que, desconsiderando sua presença, invadem o estabelecimento. Vendo a situação do “colega”, um daqueles dois sujeitos menciona para o outro em tom depreciativo: “Estagiário”.
Antes de continuar o texto gostaria aqui de fazer um parêntese. Essa montadora, de origem francesa, que mostra na televisão vários compradores afoitos por adentrarem em suas lojas é a mesma que este ano foi com cuia na mão conversar com Sarkozy (outro com a cuia na mão) para falar sobre crise pelo baixo faturamento e (advinha?!) falta de compradores.
Voltando a peça publicitária, além de desprezarem o acidente causado ao estagiário, os dois vendedores decidem sair para almoçar. À primeira vista a propaganda me pareceu tão inescrupulosa quanto os “Canibais de Garunhus”, pois pensar em almoçar depois de presenciar uma agressão física – e não prestar socorro! – só pode ter algum tipo de atração em carne humana.
O que mais me salta aos olhos nisso tudo é a maneira de se tratar o estagiário. Este que, teoricamente, se sujeita a condição para ser um aprendiz. Um futuro trabalhador de uma determinada profissão, mas, como lhe falta experiência, se dispõe a passar um por um período de sua vida conhecendo a prática profissional escolhida. Naquele momento não é mais um leigo daquele exercício nem é ainda um profissional, estágio de transição.
 Quando falo “teoricamente” estou me referindo àquilo que deveria ser feito pelas empresas com relação ao estagiário: apresentá-lo a rotina produtiva, mostrá-lo o trabalho realizado e depois orientá-lo à prática, levando em consideração que não se trata de uma pessoa com anos na profissão, e sim um estudante. Por isso, cometer erros é natural. Deve-se prestar auxílio para aprimorar a sua relação com a rotina, pois a finalidade do estágio (como lembra a lei que o regulamenta) é pedagógica, e não “de mercado”.
O cotidiano, porém, mostra outra face. O estagiário é, muitas vezes, contratado para servir de mão de obra barata onde a preocupação não é com o seu aprendizado, mas com seu desempenho – Se fizer igual ao trabalho de um profissional fica, caso contrário está fora. Falo isso porque conheço a realidade dos estágios na minha área, o jornalismo.
Há empresas (diga-se de passagem, grandes canais de comunicação) que contratam um estagiário por R$ 200! Além de não garantirem o mínimo auxílio financeiro, tem como única meta a relação custo-benefício (mais trabalhadores pelo preço de estagiário!), em detrimento da verdadeira lógica pedagógica. Imagine que nesse “valor de bolsa”, ao invés de contratar um jornalista, pode-se contratar 12 estagiários. Nem os melhores profissionais podem dar conta do que 12 pessoas dão.
Por esse motivo, é cada vez mais corriqueiro vermos a contratação de estagiário no lugar de graduados. No final, o diplomado perde oportunidades de trabalho e o estagiário também, além de não ter o acompanhamento pedagógico necessário, quando recebe o diploma é mandado embora. E o conhecimento? Não é passado corretamente, gerando profissionais viciados em rotinas redundantes e incidindo em uma formação deficitária.
Tanto na propaganda da montadora, quanto nas empresas alagoanas de comunicação observamos exemplos do que não fazer em termos de estágio. Cabe aos estagiários, instituições de ensino, entidades de classes e empresas construir os tão esperados exemplos positivos. 

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