Por essas semanas uma propaganda na televisão me
chamou atenção. Trata-se de uma peça de uma determinada marca de carro – que
não vale aqui fazer menção – onde dois sujeitos, julgo eu, funcionários, pedem que um terceiro
rapaz abra a loja para os clientes entrarem. Orgulhoso, a figura se desloca até
a entrada e abre a porta, onde é pisoteado por uma grande quantidade de
“clientes” que, desconsiderando sua presença, invadem o estabelecimento. Vendo
a situação do “colega”, um daqueles dois sujeitos menciona para o outro em tom
depreciativo: “Estagiário”.
Antes de continuar o texto gostaria aqui de fazer um
parêntese. Essa montadora, de origem francesa, que mostra na televisão vários
compradores afoitos por adentrarem em suas lojas é a mesma que este ano foi com
cuia na mão conversar com Sarkozy (outro com a cuia na mão) para falar sobre
crise pelo baixo faturamento e (advinha?!) falta de compradores.
Voltando a peça publicitária, além de desprezarem o
acidente causado ao estagiário, os dois vendedores decidem sair para almoçar. À
primeira vista a propaganda me pareceu tão inescrupulosa quanto os “Canibais de
Garunhus”, pois pensar em almoçar depois de presenciar uma agressão física – e não
prestar socorro! – só pode ter algum tipo de atração em carne humana.
O que mais me salta aos olhos nisso tudo é a maneira
de se tratar o estagiário. Este que, teoricamente, se sujeita a condição para
ser um aprendiz. Um futuro trabalhador de uma determinada profissão, mas, como
lhe falta experiência, se dispõe a passar um por um período de sua vida
conhecendo a prática profissional escolhida. Naquele momento não é mais um
leigo daquele exercício nem é ainda um profissional, estágio de transição.
Quando falo
“teoricamente” estou me referindo àquilo que deveria ser feito pelas empresas
com relação ao estagiário: apresentá-lo a rotina produtiva, mostrá-lo o
trabalho realizado e depois orientá-lo à prática, levando em consideração que
não se trata de uma pessoa com anos na profissão, e sim um estudante. Por isso,
cometer erros é natural. Deve-se prestar auxílio para aprimorar a sua relação
com a rotina, pois a finalidade do estágio (como lembra a lei que o
regulamenta) é pedagógica, e não “de mercado”.
O cotidiano, porém, mostra outra face. O estagiário
é, muitas vezes, contratado para servir de mão de obra barata onde a
preocupação não é com o seu aprendizado, mas com seu desempenho – Se fizer
igual ao trabalho de um profissional fica, caso contrário está fora. Falo isso
porque conheço a realidade dos estágios na minha área, o jornalismo.
Há empresas (diga-se de passagem, grandes canais de
comunicação) que contratam um estagiário por R$ 200! Além de não garantirem o
mínimo auxílio financeiro, tem como única meta a relação custo-benefício (mais
trabalhadores pelo preço de estagiário!), em detrimento da verdadeira lógica
pedagógica. Imagine que nesse “valor de bolsa”, ao invés de contratar um
jornalista, pode-se contratar 12 estagiários. Nem os melhores profissionais
podem dar conta do que 12 pessoas dão.
Por esse motivo, é cada vez mais corriqueiro vermos
a contratação de estagiário no lugar de graduados. No final, o diplomado perde oportunidades
de trabalho e o estagiário também, além de não ter o acompanhamento pedagógico
necessário, quando recebe o diploma é mandado embora. E o conhecimento? Não é
passado corretamente, gerando profissionais viciados em rotinas redundantes e incidindo
em uma formação deficitária.
Tanto na propaganda da montadora, quanto nas
empresas alagoanas de comunicação observamos exemplos do que não fazer em
termos de estágio. Cabe aos estagiários, instituições de ensino, entidades de
classes e empresas construir os tão esperados exemplos positivos.